OS PRIMEIROS BATERISTAS DO RIO.

(Roberto Rutigliano)

A  bateria entra no Rio de Janeiro, em 1919, pelo Jazz, os dois primeiros músicos que introduziram a bateria foram estrangeiros: Harry Kosasrin (um euro americano) e Gordon Stretton (um músico inglês de família Jamaicana).

Escutamos uma gravação de Gordon Stretton de 1923, a bateria praticamente toca efeitos no Wood block e por momentos uma sonoridade similar ao das castanholas, alem de caixa e pratos de ataque.

Na foto Harry Kosarin e William Gordon Stretton.

A ÉPOCA.

O Samba, o Choro, o Maxixe e os outros estilos que se tocavam na época tinham na sua instrumentação percussão como: pandeiro, caixa, agogô, reco-reco, ganzá, prato com faca, bumbo, mas não tinham bateria.

Os músicos que tocavam estes instrumentos de percussão eram chamados de “ritmistas” e normalmente tocavam em naipe de quatro o mais instrumentistas.

Nas primeiras gravações, por uma série de questões técnicas, não tinha percussão nem bateria, o elemento rítmico era dado pelos sopros graves: tuba e trombone. A partir da década de 1930 entram nos discos os instrumentos de percussão.

AS JAZZ BANDS.

Na década de 1920 é que aparecem as “Jazz-bands” se tornando uma tendência na indústria fonográfica e no mercado do entretenimento (BESSA, p. 105).

Ary Barrozo, numa entrevista de 1955, publicada no “O jornal” comenta que uma das primeiras orquestras que tinha no Rio de Janeiro era a “Amercian Jazz” (isso por volta de 1924), nessa orquestra, que reunia os principais músicos da cidade, tinha na bateria ao músico “Teixeirinha”.

No bumbo tinha o desenho de uma arara e em torno dela o nome da orquestra. A orquestra foi mudando de integrantes e foi então que se incorporou o baterista Eugênio de Almeida Gomes “Submarino”.

OS ESTILOS.

A dança é um ponto de distinção importante: enquanto as bandas militares executavam um repertório ligado às danças de salão de fins do século XIX (polcas, mazurcas e schottisch) e aos gêneros praticados em desfiles militares (dobrado), as Jazz-bands se associavam às danças diferentes como maxixes e sambas gravados como é o caso da “Carabelli Jazz Band”, que durante a década de 1920, mesmo sendo dirigida pelo músico argentino Adolfo Carabelli, registrou Sambas e Maxixes de compositores brasileiros (“Não te quero mais” de Donga e “Tem papagaio no poleiro” e “Viva a penha” de Sinhô). Fez parte da orquestra o saxofonista Luiz Americano.

Escutamos a composição: “Tem papagaio no boleiro” de Sinhô interpretado pela “Carabelli Jazz band”.

A BATERIA DA ÉPOCA.

Almirante, outro autor bastante referenciado acerca da história da música popular brasileira, assinala que, entre 1923 e 1926, o “movimento melódico” sofreu transformação intensa no Brasil. Vários ritmos norte-americanos como shimmy, charleston, blues, black-bottom fizeram parte do repertorio dançante.

A bateria era olhada pelo público como um instrumento atraente com tambores, pratos e bumbos, sem falar dos mais “esquisitos apetrechos tais como panelas, frigideiras (de cozinha) e latas, apitos, buzinas, sirenas etc.” (Almirante, 1963, p. 30-31).

A bateria tinha um comportamento diferente do que ela tem hoje, o fraseado da bateria nas gravações era similar ao do sapateado, ela tinha também pratos crash e efeitos diferentes como campainhas e uma série de sinos e de wood block (blocos ocos de madeira).

A caixa era amarrada numa cadeira e o bumbo se tocava no começo com uma baqueta ou mesmo com o pé sem pedal.

Escutamos uma gravação feita entre 1922 e 1925 para a casa Edison da orquestra Sul americana.

Aqui um Maxixe pela mesma orquestra, a célula do piano e da bateria (o que se escuta é na realidade o som de blocos de madeira) é igual à célula do ritmo “Ilu” do Candomblé.

Escutamos a sonoridade da Artur Castro Jazz Band panamerican do Cassino de Copacabana de 1926 , vemos que o ritmo é uma mistura de Habanera e Maxixe. O tema se chama Mon Paris.

Na imagem do vídeo vemos que a orquestra tinha uma caixa e um prato de ataque.

Escutamos uma gravação dos “Oito Batutas” de 1923.

Entre os bateristas mencionamos a Harry Kosasrin e Gordon Stretton, Teixeirinha, Eugênio de Almeida Gomes (Submarino), Benedicto e João Thomas de Oliveira estes três últimos bateristas dos oito batutas.

Na foto J.Tomás (João Tomás de Oliveira Júnior) ,depois marcado em vermelho o Benedicto e por último o Submarino junto dos oito batutas, todos bateristas dos Batutas.

A NOVA DECADA.

Escutamos aqui a sonoridade da época, a questão da gravação melhorou muito e com o ingresso do cinema ainda se aperfeiçoa o registro visual.

Aqui escutamos um Maxixe interpretado pela Jazz Band de Romeu Silva de 1936 com a presença da Josephine Baker para o filme “O jovem tataravô”

Depois do inicio do século onde é difícil identificar instrumentistas, na década de 1930 temos que citar a 3 bateristas importantes que se destacam no Brasil o “Sut” (João Batista das Chagas Pereira), ele foi pai do Sutinho outro importante baterista, Walfrido Silva e o mestre Luciano Perrone .

O Sut era um virtuoso temos uma filmagem onde ele toca realizando todo tipo de malabarismo dando à bateria um efeito visual

https://fb.watch/qefSdxWOZZ/.

Aqui vemos uma foto do Sut com a Jazz Band Columbia de 1932.

O Walfrido Silva durante muito tempo tocou com Eckardt e com Augusto Lima, que tocava no Cine Éden. Depois no Cabaré Assírio, do Rio, pouco depois de “Bataclan”. Do Assírio foi para o Beira Mar, depois para o Dancing Avenida, depois para a Orquestra do Cassino Atlântico. Em 1932 passou a integrar dois famosos conjuntos de estúdio que gravaram para a RCA Victor: O “Grupo da Guarda Velha” e os “Diabos do Céu”. Entre os muitos títulos de glória de Walfrido Silva é bom não esquecer ainda este: foi o primeiro baterista brasileiro que teve seu nome, como tal, registrado em disco, o que ocorre na gravação de “Preludiando”, em que acompanha Carolina Cardoso de Menezes. (Fonte de pesquisa VASCONCELOS, Ary. Panorama da música popular brasileira vol 2. Editora Martins, São Paulo. 1964).

Luciano Perrone é toda uma instituição na história da bateria porque tocou junto com o grande maestro Radamés Gnatalli e porque fez discos de bateria solo com ideias e arranjos originais que tem um valor musical importante.

Vamos destacar primeiro ele com a formação de trio. Em 1937 aparece o “Trio carioca” no qual Perrone gravou com Radamés e o clarinetista Luiz Americano.

A bateria já tinha em este momento um comportamento muito mais amadurecido que o que foi no começo do século. Os arranjos e a conformação do instrumento já tinham crescido ao ponto de ser algo muito similar ao que entendemos hoje como comportamento básico do instrumento e também tinha evoluído muito a construção da bateria.

A incorporação da leitura e de um estudo técnico ajudou a que a matéria prima rítmica pudesse dar conta de contextos diferentes.

A FORMA DE TOCAR.

A escola de bateria brasileira desde começo do século XX até mediados de 1950 era diferente, o Samba se tocava mais nos tambores e as vassourinhas seguiam o fraseado do reco-reco. Depois se começou a tocar a bateria conduzindo o ritmo no prato e toda aquela tradição se perdeu. Mas esse é um novo assunto que vamos a desenvolver em novas publicações.