(Autor Roberto Rutigliano)

Na nossa perspectiva, o ensino da bateria no jazz tem quatro fundamentos principais.
O som
O tempo
As ideias
Os estilos
Com base nestes quatro pilares, desenvolveremos o estudo do jazz.
SOM
A ideia é desenvolver a consciência da importância do som. Para isso, é necessário usar um prato de condução (ride) que não “abra” muito, visto que no jazz praticamente toda nossa performance se baseia na condução. Recomendamos pratos duros, pesados com som cálido similares aos pratos flat das diferentes marcas Zildjian, Paiste, Bosphorus, etc. Para a caixa, recomendamos peles porosas e o uso de pequenos abafadores, visando uma sonoridade sem estridências. Em relação às baquetas, indicamos o modelo 5A, com comprimento longo, como as Jack DeJohnette Signature da Vic Firth. Para as vassourinhas, sugerimos o modelo Vic Firth Jazz Brush WB White, com cerdas retráteis.
PLANOS DO SOM
Em segundo lugar, vamos observar os planos de som da bateria e os comportamentos de suas diferentes peças. Isso significa que existe uma mixagem de dinâmicas e volumes que pressupõe uma hierarquia. Primeiro plano: o ride; segundo plano: o hi-hat; terceiro plano: o bumbo e a caixa.
TEMPO
Outro ponto importante é estudar com o metrônomo marcando os tempos dois e quatro em diferentes velocidades: lenta, média e rápida.
ESTILO
Neste primeiro momento, estudaremos com baquetas (não com vassourinhas), focando no estilo de jazz que vai dos anos 30 até os anos 60, situado após a era de New Orleans e antes da era de fusão.
IDEIAS
Agora, sobre o comportamento: a condução do jazz na bateria, conhecida como swing, baseia-se no uso do prato de condução (ride) para criar um pulso fluido. Essa técnica envolve o uso de tercinas para dar a sensação de impulso, com o hi-hat (chimbal) marcando o segundo e o quarto tempos da batida. A mão da condução faz um único movimento e, com ele, realiza três golpes. Em seguida, a baqueta sobe e desce novamente, executando esses três golpes. Não há acentos, mas existe um centro de gravidade nos tempos dois e quatro. O ride realiza a condução da música, desempenhando esse papel em conjunto com o “walking bass” — literalmente, “o andar, o caminhar do baixo”. Essa é a função básica de acompanhar jazz, tocando o ride junto a uma linha de graves que cria movimento constante, com uma nota em cada tempo. Essa linha melódica “caminhante” serve como base rítmica e harmônica. O hi-hat marca os tempos dois e quatro, enquanto a caixa e o bumbo fazem comentários relacionados ao que o piano executa, aos espaços deixados pela melodia e às ideias do solista.
INDEPENDÊNCIA
O estudo da independência pressupõe, primeiramente, o desenvolvimento da coordenação entre a condução, o hi-hat e a caixa. Para isso, um dos métodos mais lúcidos é ler uma página do livro “Syncopation” com a mão na caixa, enquanto o hi-hat e a condução se mantêm fixos. O livro se chama, na realidade, Progressive Steps to Syncopation for the Modern Drummer, e seu autor é Ted Reed. A ideia de aplicar este método como estudo de independência foi do baterista Alan Dawson. Aqui uma página do método para ser estudada.

Após uma leitura simples, o segundo passo é diferenciar o som das semínimas do som das colcheias Feito isso, estudamos em vários andamentos.
RECONHECIMENTO HARMONICO.
Assim como na arquitetura, a música também produz formas “quadradas’”— que, na teoria musical, são chamadas de quadratura. Isso significa que a música se organiza em ciclos de quatro, oito ou doze compassos. O blues que estudaremos, por exemplo, possui 12 compassos.”
As dinâmicas e as ideias que incorporaremos nesse ciclo possuem momentos de tensão e distensão. Não tocamos um ritmo fixo; ele responde a um movimento harmônico. Ao nos aproximarmos do final do ciclo, aumentamos a dinâmica e incorporamos fills para apoiar a ideia de final de ciclo e início do próximo.
BLUES.
O jazz nasceu do Blues, dos cantos de trabalho e dos diálogos com a musicalidade europeia. A estrutura do Blues é muito importante. Muitas das composições de Charlie Parker são blues, e o exemplo que estudaremos para iniciar nossa compreensão do mundo do jazz é tirado de um disco que se chama justamente “Tipos de Blues” (Kind of Blue).
A ideia é exercitar-se tocando com consciência do movimento harmônico e do tema. Para isso, o exercício consiste em: tocar a melodia. depois tocar nas pausas da melodia por último depois improvisar tendo em conta esse contexto.
Escutar o Audio Original https://youtu.be/ZZcuSBouhVA?si=eSoU56Ol5dO66X2g
Estudar também com o Play along https://youtu.be/x2hCyzfvBg4?si=PkQL1ZemdqzyuyvB

JIMMY COBB
Jimmy Cobb (1929-2020) foi o último membro sobrevivente da icônica banda de Kind of Blue — que contava com Miles Davis, os saxofonistas John Coltrane e Cannonball Adderley, os pianistas Wynton Kelly e Bill Evans, e o baixista Paul Chambers. Ele também foi um dos derradeiros bateristas que definiram o estilo pós-bop das décadas de 1950 e 1960.
Embora Kind of Blue seja o álbum de jazz mais vendido da história, Cobb não alcançou a mesma projeção pública que alguns de seus contemporâneos, como Philly Joe Jones, Elvin Jones ou Roy Haynes. No entanto, como sua vasta discografia atesta, inúmeros músicos o desejavam em suas bandas devido à sua marcação de tempo sólida e swingada.
Com uma abordagem discreta e nada extravagante, Cobb conseguia impulsionar uma banda com mais força usando apenas poucas notas no prato de condução ou vassouras na caixa, do que muitos bateristas com padrões rápidos e furiosos, repletos de viradas sincopadas na caixa e no bumbo.
Ele personifica a discrição e elegância na bateria, representando tudo o que um músico deveria buscar. Cobb é um exemplo fundamental para quem deseja compreender a bateria no jazz e para quem aspira a assumir o papel de acompanhador, de base — a verdadeira “cozinha” na música.
Como bem observou Miles Davis: “Cobb é um dos poucos bateristas aos quais não preciso dizer nada.”
