Por: Roberto Rutigliano
O início do Latin Jazz.
A audição da musicalidade latina nos EUA nunca foi algo estranho. Muitos dos escravos que habitavam New Orleans no começo do século XIX vinham das Antilhas e seus ritmos eram caribenhos.
No final do século XIX, o blues, o irmão profano da música das igrejas batistas negras. No início do século XX o pianista Jelly Roll Morton misturava o swing do jazz com ritmos e habaneras do Caribe, ele chamava essa mistura de “matiz espanhol”. Aqui ele está interpretando a música “The Crave”.
Composições famosas como Saint Louis Blues já tinham elementos da musicalidade espanhola. Estamos falando do swing da Habanera.
Para falar do Latin Jazz temos que nos remeter aos EUA na época do bebop, New York 1940.
Para muitos críticos de jazz, a melodia do Bauzá “Tanga” (com Machito e os afro-cubanos) no início dos anos 1940 foi o primeiro exemplo verdadeiro da música que hoje é conhecida como jazz latino.
A concepção.
As ideias, a orquestração, o comportamento do piano, a percussão e os ritmos surgiram da tradição afro cubana. Este universo se materializou numa nova estética com a chegada aos EUA de músicos como Alberto Socarrás, Juan Tizol, Machito, Mario Bauzá, Mongo Santamaria, Tito Puente e Chico O’Farrill entre muitos outros.
Os americanos compreenderam que não se podia apenas colocar um percussionista na banda para reproduzir o estilo e tiveram que se aproximar de toda uma concepção diferente da que eles conheciam para realizar sua arte.
Aqui o som do flautista Alberto Socarrás, um dos fundadores da mistura entre a sonoridade latina e o jazz.
Aqui “Caravan” de Juan Tizol, música completamente incorporada com a musicalidade de Duke Ellington. Uma composição que tem uma estética latina, mas que incorpora uma melodia próxima das escalas árabes.
Dizzy Gillespie.
Dizzy se apaixona pela sonoridade latina, conhece a Mario Bauzá, que tocava sopros e era arranjador da orquestra de Machito e de Chick Webb, e incorpora também na sua banda o percussionista Chano Pozo.
Dizzy abraça este projeto e com essa nova sonoridade se soma ao que se chama de jazz afro cubano, algo que se propõe misturar o estilo das orquestras de swing com a rítmica cubana.
Em 1942 Dizzy compõe a “Night in Tunisia” e esta música abre um espaço dentro do be bop para novos rumos. Lembremos que o bebop não era um estilo homogêneo como outros. Era um estilo de ruptura onde tinha músicos tão diferentes entre si como Charlie Parker e Thelonious Monk.
Vamos ouvir então um pouco da sonoridade de Dizzy.
Charlie Parker
A outra grande liderança do Be Bop , Charlie Parker também mergulhou nos ritmos afro cubanos e com Machito gravaram o disco “The Afro-Cuban Jazz Suite”.
Datado em 1949 este disco tem arranjos de Chico O’Farrill.
Aqui um disco com a musicalidade dessa dupla: Machito e Mario Bauza. Disco datado de 1953.
Para terminar com este panorama vamos a escutar a Chico O’Farril um instrumentista, compositor e arranjador que desenvolve desde os anos 40 esta mescla entre a musicalidade latina e o improviso.
Agora vamos escutar ele com a Habana Blues.
Lembrando que na quinta-feira 24 de abril no Blue Note às 22:30 e no domingo, 27 de abril das 17 às 20 no Hotel Santa Teresa estaremos apresentando uma banda de sete músicos revivendo esta sonoridade de jazz afro cubano.