(Autor Roberto Rutigliano)

O INÍCIO.
Existe uma pré-história no jazz, que podemos situar em meados do século XIX, que inclui estilos como o blues, o canto de trabalho, os “Negros Spirituals”, depois chega o “Ragtime” e o “Dixieland” numa fusão da musicalidade africana e europeia.
Escutamos agora uma gravação de ragtime. Identificamos sotaques de estilos como a polca, também da música espanhola e da música de circo.

ESTILO NEW ORLEANS.
O que conhecemos como jazz que se popularizou no mundo é o estilo New Orleans. O estilo New Orleans era o que se tocava nas ruas, geralmente por pequenos grupos formados por clarinete, trombone, trompete tuba e percussão, num ritmo próximo à marcha europeia e a musicalidade do circo. Os grupos se encontravam e tocavam envolvidos por um clima típico de carnaval francês e, até mesmo, em funerais. Quando os músicos acompanhavam o translado fúnebre com músicas de tom melancólico, eles faziam o caminho de volta festejando e dançando (BERENDT, 2014).
De forma paralela ao movimento dos negros nas ruas, no começo do século XX, cresce um movimento dos brancos fazendo um jazz mais arrumado chamado Diexeland. Agora escutamos o som da Original Dixieland Jazz Band (baterista Tony Sbarbaro- 1910).

Dois fatos curiosos ajudaram a mudar o jazz, primeiro com a proibição das festas nas ruas, a partir desta censura os músicos começaram a tocar em lugares fechados o que os obrigou a se profissionalizarem. Depois, a partir de 1920, ocorre uma migração de músicos do sul para Chicago que ajudou a expandir a música. Em New Orleans por questões de repressão e de autoritarismo, os militares decretaram o fim da zona de bares e bordéis onde os músicos tocavam isto fez que a grande massa de músicos se instalasse em Chicago e mais tarde em New York.
Aqui compartilhamos um filme (com lengendas em português) com Louis Armstrong, Billie Holiday e o baterista Zutty Sigleton sobre o jazz e o êxodo a Chicago.

A BATERIA.
A percussão nas ruas aparecia desmembrada em bumbo, pratos de choque e caixa, para tocar nos bares se reúnem num instrumento, nesta síntese é que se cria a bateria. É fácil imaginar que ao passar da rua para os clubes, tornou-se necessário fundir os diferentes instrumentos de percussão transportados pelos integrantes das bandas em um único, a bateria.

Na foto Tony Sbarbaro (1897/1969) e Sony William ‘Sonny’ Greer (1895/1982).

(Chinese tom) e no prato de ataque (crash). O Drum Setup tinha apenas pratos crash, porque os pratos se usavam somente na sua função de ataque, normalmente não existia o comportamento de tocar a condução no ride como o fazemos agora, com o tempo a condução passou da caixa para o hi-hat e depois para o crash e por ultimo para o prato ride.

No estilo de “New Orleans Dumming” normalmente se conduzia na caixa com um sentido de banda marcial, muito rufo e o bumbo a terra ou com frases dentro da divisão rítmica similar a frase do baião ou com o sentido da clave cubana. Todo o fraseado do improviso tinha um sotaque similar ao do sapateado das ruas. Existia a levada básica de “thin thinquithin”, mas o sentido era mais uma herança das “marching bands” junto com o fraseado do sapateado. Isso aconteceu até os primeiros 30 anos do século XX.
Os bateristas usavam a caixa inclinada como quando a levavam andando na rua e tocavam com baquetas pesadas de madeira ou com vassourinhas. A levada da caixa usava muito a técnica de Press Roll (rufo fechado pressionando a pele) para criar uma base sonora permanente. Os andamentos variavam de lento com um ar triste, médio e muito rápido e alegre. Naquela época já existiam improvisações de bateria, lembremos que a música popular estava diretamente associada à dança ao ponto que o baterista Baby Dodds, natural de New Orleans, quando foi tocar a New York ficou surpreso porque a pessoas assistiam as apresentações sentadas nas suas cadeiras sem dançar.

SUB-GÊNEROS DO JAZZ DE NEW ORLEANS.
Existiam vários subgêneros dentro do estilo New Orleans, reconhecemos blues lentos e melancólicos que nos aproximam referencias dos “Negros Spirituals” e cantos fúnebres. Escutamos “St. James Infirmary” com Louis Nelson e Sam Dutrey.

Reconhecemos também influências africanas, da música “klezmer” e da música espanhola. Em relação às influências da música klezmer com o jazz, não existiu algo direto, mas ambas as músicas se moldaram numa ancestralidade comum. Por outro lado a música klezmer, chamada do jazz judaico foi famosa em New York nos anos 20 e teve clarinetistas ilustres que frequentavam os dois gêneros.
Aqui uma música onde reconhecemos uma sonoridade klezmer, é do disco de Zutty Sigleton , a música “Scrunch Lo”.

Aqui um exemplo da influência da música de sotaque espanhol, o tema “Look over Yonder” de Zutty Sigleton. Trata-se de uma música com ritmo similar ao estilo “Havanera” ligado à tradição cubana.

Aqui uma música de tempo médio e com um sentido bem humorado. A bateria usa os timbres dos blocos de madeira e o efeito do prato crash abafado com a mão. Na bateria Andrew Hilaire (1899-1935)

Aqui uma música rápida tocada com vassourinhas por Johnny Wells (1899/1965).

Entre os bateristas de destaque de este estilo “New Orleans” podemos citar a Warren “Baby” Dodds (1898/1959), Josiah Frazier (1904/1985) , Alfred Williams Russell (1900/1963), Abbey “Chinee” Forster(1900/1962), Paul Barbarin (1899/1969) , Andrew Hilaire (1899/1935), Johnny Wells (1899/1965), Milford Dolliole (1903/1994), Carleton Coon (1893, 1932), Tony Sbarbaro (1897/1969), Jimmy Bertrand (1900/1960) e Zutty Singleton (1898/1975).

Dodds foi um dos primeiros bateristas a gravar improvisos e discos solos didáticos. No seu estilo se destaca o que ele chama de “Shimmy Beat”, rufos maiores que os habituais de um tempo. Ele usava rufos constantes de quatro tempos. Outra virtude para destacar é o uso de muitos timbres nos seus improvisos, ideias diferentes que usava em cada seção da música e a amálgama que produzia dentro da banda dialogando com os outros músicos.
Aqui Dodds interpretando um tipo de marcha muito popular em New Orleans chamada “Maryland”

Outra característica dos bateristas da época era a de definir o final das viradas (fill’s) no tempo quatro ou na última colcheia do tempo quatro. Na atualidade o normal é terminar as viradas

Zutty Singleton (1898-1975). Este é outro dos bateristas que podemos colocar no pantheon.Zutty começou a tocar profissionalmente aos 17 anos, tocou em New Orleans com Louis Armstrong e depois emigrou para Chicago. Nessa época acompanha a Carroll Dickerson com
quem viaja a New York.
Ele também foi um baterista de muito destaque na época. Alem de tocar no estilo New Orleans, Zutty tocou cem inúmeros discos com músicos como o vibrafonista Lionel Hamptom, com o trompetista Joe Marsala e o trompetista Red Allen entre outros.
Aqui o escutamos num disco seu tocando com vassourinhas e depois mudando o estilo tocando nos toms realizando um improviso bem quente.

Escutamos mais gravações de: Warren “Baby” Dodds e Zutty Singleton.

IDEIAS
Aqui temos uma série de 32 frases usadas por Baby “Doods” recopiladas pela Universidade de Maryland que pode ser de imenso valor para quem queira se iniciar no conhecimento musical do estilo de New Orleans.

 

Aqui o arquivo donde podem encontrar discos e informações sobre Zutty Singleton e gravações dos primeiros discos de Jazz.

https://archive.org/search?query=Zutty+Singleton

Aqui um improviso muito bonito de Zutty

https://archive.org/details/78_drum-face_zutty-singleton-singleton_gbia7029614b

Mostramos aqui um improviso de Josiah Frazier

Aqui uma performance atual do baterista Steve Smith reproduzindo o estilo de 1930.